As últimas semanas tem sido extremamente tumultuadas para o presidente americano Donald Trump, em meio as complexas negociações tarifárias em que absolutamente todos os países buscaram reduzir os seus danos e perdas, menos o Brasil, que capturado por uma diplomacia inoperante, um presidente incapaz, e um conselheiro de política externa que talvez seja o pior diplomata da história do Itamaraty preferiu se portar como um potência que ele não é, buscar apoio multilateral num momento em que todos estão preocupados com si mesmo é uma enorme demonstração de fraqueza e inoperância. Porém um fantasma do passado voltou para assombrar Donald Trump, justo no momento que o presidente começava a se portar como um republicano tradicional resgatando a era Reagan.
O Caso Epstein voltou a tomar as manchetes nos Estados Unidos, com amplos setores do MAGA. (Make America Great Again) movimento de apoio do presidente demandando que todo o caso seja tornado público após uma série de divulgações censuradas pelo DOJ (Departamento de Justiça). O problema não é pequeno para Donald Trump. O presidente é mencionado diversas vezes nos documentos, e ninguém sabe até que ponto o presidente americano estaria ou não envolvido nas atividades ilícitas de Epstein.
Meu colega de site Lucas Gualtieri, que estreou de forma brilhante recentemente no portal https://hermeneuticapolitica.com.br/politica-nacional/do-crime-ao-terror-a-cegueira-estrategica-do-estado-brasileiro/.
Mencionou inteligentemente que a possibilidade de que o caso Epstein veja a luz do dia com todas as evidências públicas é extremamente remota, existem indícios de que Epstein era um ativo da CIA, e que através das suas festas muitos traficantes de crianças, mulheres, pedófilos e toda a sorte de pervertidos teriam sido capturados. A CIA teria feito vista grossa em busca do bem maior, não é incomum esse tipo de “Escolha de Sofia” ocorrer no mundo da alta inteligência. Na obra A Nation Under Blackmail a jornalista Whitney Webb embarca nessa possibilidade. A conclusão que podemos chegar é que a única chance desse caso realmente ver a luz do dia é que ocorra um “Garganta Profunda” que busque a imprensa assim como aconteceu no Watergate que também vitimou um presidente republicano, Richard Nixon.
Mas aqui o problema maior para Trump, não é o caso ser divulgado uma vez que os Stakes são muito altos para que ele seja tornado público de forma oficial. O problema para Trump é que a natureza carismática da sua liderança foi colocada em xeque pelo MAGA, sua base Jacksoniana é exclusivista do ponto de vista social, e uma vez que Trump deixe de fazer parte dessa comunidade, ele não será poupado.
No até então artigo mais lido da história desse portal eu afirmei baseado nas tipologias do poder de Max Weber que se Bolsonaro se acoplasse em Pablo Marçal ele perderia o controle sobre o bolsonarismo para o novo líder carismático que surgiu. O mesmo pode ser dito aqui sobre Donald Trump e o MAGA.
Para seguir essa análise é indispensável buscar a obra do sociólogo alemão Max Weber (1864-1920) por dois motivos, o primeiro é para entender de maneira mais aprofundada o conceito de dominação e suas tipologias. Segundo Weber o conceito de Poder significa “Toda probabilidade de impor a própria vontade numa relação social, mesmo contra resistências, seja qual for o fundamento dessa probabilidade” (WEBER, 2009, p 33). Enquanto a dominação é o que confere autoridade ao poder, ou nas palavras de Weber “A probabilidade de encontrar obediência para ordens específicas (ou todas) dentro de determinado grupo de pessoas” (WEBER, 2009, p 139). Em outras palavras existe uma relação de emissor e receptor entre o Poder e a Dominação, enquanto o primeiro é um exercício de vontade, o segundo representa a aceitação desse exercício.
Dentro das análises de Weber sobre os tipos de dominação se destacam três tipologias, a dominação legal se refere basicamente ao poder do Estado enquanto detentor do monopólio da violência, Weber é uma espécie de herdeiro da concepção hobbesiana no que diz respeito a natureza da ordem e manutenção de coesão social. Portanto considera que o Estado existe para evitar que indíviduos exerçam a violência por si mesmos. O império das leis e não dos homens e o uso da forças armadas representam essa dominação, mas para que ela seja válida na visão de Weber ela deve surgir á partir de um processo legal e correto de sanções e aplicações.
O segundo tipo de dominação é o tradicional, esse processo deriva de um respeito as tradições, esse modelo está mais ligado a filosofia moral e a sabedoria inata das tradições, afinal se elas duraram por tanto tempo algum motivo existe, e as normas morais reforçam o modelo.
O terceiro tipo é chamado de dominação carismática, esse modelo diz respeito a capacidade de mobilização das massas e comando sobre ás demais pessoas que o líder carismático possui, frequentemente existe uma relação de devoção ao líder, não apenas por características pessoais de liderança mas frequentemente também por uma crença inabalável que o líder seria infalível e que ele traria ás mudanças que seus seguidores clamam, o que coloca esse tipo de dominação mais próximo do misticismo e da religião do que da filosofia moral ou jurídica.
A posição de Trump talvez seja até mais complicada que a de Bolsonaro, pois J.D.Vance o seu vice, se transformou no escolhido do MAGA, enquanto Trump e Marco Rúbio se movimentam ao redor do establishment republicano para buscar recompor a sua base, o retorno a uma política externa mais agressiva na linha dos Falcões republicanos não é apenas um mero acaso, ou uma reflexão geopolítica necessária, ainda que tardia. Trump precisa mais do que nunca do establishment republicano ao seu lado para escapar sem danos desse caso.
Porém precisamos lembrar que efetuar trocas de bases eleitorais no meio do mandato é algo extremamente difícil e que pode cobrar a conta na agenda legislativa e nas eleições de meio de mandato do próximo ano. Trump deu voz as pautas da direita radical americana falando sobre Deep State, Drain The Swamp… Ele tirou a coleira do cachorro louco, e agora que ele precisa controlar esse cachorro louco… o cachorro voltou e o mordeu.
O que aconteceu com Trump contudo nos dá uma lição politicamente válida, para políticos, analistas e curiosos de plantão. Devemos sempre ter noção da moralidade da ação política, respeitemos o poder, e não usemos ele para abrir Caixas de Pandora que podem voltar depois e nos prejudicar imensamente, para os brasileiros isso não poderia acontecer em pior momento, pois pode afastar a atenção dos americanos da política externa de volta a política interna e toda a pressão que está sendo feita contra o STF e o PT pode acabar ficando mais morna, dando chance de um acordão que beneficie quem colocou o Brasil nessa situação.
Referências Bibliográficas
WEBB, Alyse Whitney. A Nation Under Blackmail. Portland. Trine day. 2022
WEBER, Max. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. 4. ed. Brasília: Editora Universidade de Brasília, 2009.